segunda-feira, 17 de setembro de 2012

WICCA, FEITIÇARIA, MAGIA

Não deixem de ler o trecho do livro de Jefrey Russel, que segue abaixo... Vale muito a pena.

“O que é uma bruxa?

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Respostas mais corretas e úteis são: 1) uma bruxa é uma feiticeira: este é o enfoque antropológico; 2) uma bruxa é uma satanista: esta é uma abordagem histórica; 3) uma bruxa cultua os antigos deuses e pratica magia: este é o enfoque favorecido pelas bruxas modernas. Cada uma dessas abordagens pode ser justificada.

(...)

A mais comum das concepções equivocadas a respeito da feitiçaria é que “uma bruxa é coisa que não existe”. Um congestionamento de outros deve também ser eliminado antes de prosseguirmos em nosso caminho. “Um curandeiro é um bruxo”. De fato, um curandeiro ou médico-feiticeiro pratica magia, mas a sua função é combater as ameaças ou efeitos da bruxaria. “A bruxaria é a mesma no mundo inteiro.” Na verdade, existe uma grande diferença entre a Bruxaria da Europa e a feitiçaria de outras culturas. “A possessão está relacionada com a bruxaria.” A possessão é um ataque interno infligido a um indivíduo por espíritos malignos, uma invasão da psique que faz desse indivíduo um possesso; a obsessão é um ataque físico. Em nenhum dos casos a vítima faz um pacto consciente com o espírito maligno. Na bruxaria diabólica, por outro lado, a bruxa convidou voluntariamente e deliberadamente o espírito maligno através da invocação ou por outros meios. A maioria das bruxas modernas repudia inteiramente semelhante invocação.

“A missa negra é uma parte integrante da bruxaria.” A missa negra é desconhecida na bruxaria histórica européia e rejeitada não só pelas bruxas contemporâneas mas até pelos satanistas. A única época em que a missa negra foi seriamente realizada foi durante o reinado de Luis XIV, e mesmo então não tinha qualquer ligação com a bruxaria contemporânea. “A bruxaria é característica da Idade Média.” A bruxaria européia só surgiu em fins da Idade Média. A grande caça às bruxas ocorreu durante o Renascimento,a Reforma e o século XVII. “As bruxas são, usualmente, mulheres velhas e feias.” Tanto no passado quanto no presente, muitos homens praticaram e continuam praticando a bruxaria, e muitas bruxas são muito jovens e bonitas. “A bruxaria é um tema ridículo e trivial”. Durante a caça às bruxas pelo menos 100.000 pessoas foram torturadas e mortas como bruxas. As crenças em bruxaria tiveram grandes efeitos psicológicos e sociológicos. Antropólogos, psicólogos e historiadores tratam agora a bruxaria como assunto sério.



Mas o que é realmente uma bruxa?

Uma resposta reside nas raízes e no desenvolvimento das palavras.

A palavra inglesa WITCH deriva do inglês arcaico WICCA (pronunciado “witcha” e com significado de “bruxo”) e WICCE (“bruxa” e pronunciado “witcheh”), e do verbo WICCIAN, que significa “enfeitiçar”. Ao invés da crença comum entre as bruxas modernas, não se trata de uma derivação céltica e nada tem a ver com o inglês arcaico WITAN, “saber”, ou qualquer outro vocábulo relacionado com “sabedoria”. A explicação de que WITCHCRAFT significa “arte dos sábios” é falsa.



O termo WARLOCK (feiticeiro) deriva do inglês arcaico WAER, “verdade”, e LEOGRAN, “mentir”. Significava originalmente qualquer perjuro ou traidor. Por volta de 1460, o termo foi equiparado a WITCH. WITCH aplica-se a ambos os sexos. WIZARD, ao contrário de WITCH, deriva realmente do inglês medieval WIS, que apareceu npela primeira vez em cerca de 1440 com o significado de “mago”; nos séculos XVI e XVII designava um mago dotado de poderes sobrenaturais (HIGH MAGICIAN) e só depois de 1825 passou a ser usado como equivalente de bruxo (WITCH).

SORCERER deriva do francês SORCIER, do latim pós-clássico SORTIARIUS, “adivinho” ou “ledor da sorte”. Em francês, SORCIER significa “feiticeiro” (SORCERER) e “bruxo” (WITCH) indistintamente. A palavra inglesa SORCERY (feitiçaria, bruxaria) foi introduzida no século XIV e tornou-se comum no século XVI. Tal como no francês, o vocábulo inglês nunca foi muito claro: ora se refere à simples feitiçaria, ora a alguma modalidade de feitiçaria diabólica.

MAGICIAN (mágico, mago) deriva do francês MAGIQUE, do latim MAGIA e do grego MAGEIA. A palavra grega MAGOS designava originalmente os astrólogos-sacerdotes persas que acompanharam o exército de Xerxes na invasão da Grécia. Usada em inglês nos fins do século XIV, MAGIC (magia) subentendeu freqüentemente um refinado sistema intelectual oposto às práticas mais grosseiras de “feitiçaria”.

Alguns antropólogos não fazem distinção entre bruxaria e feitiçaria. Outros, adotando o critério proposto por Evans-Pritchard, usam uma distinção africana entre magos maléficos que usam objetos materiais como ervas e sangue em seus conjuros malignos que prejudicam outrem por meio de uma qualidade inerente e invisível que possuem. Esses antropólogos designam a palavra inglesa SORCERER (feiticeiro) os primeiros e WITCH (bruxo) os segundos.

A distinção é válida, mas a escolha das palavras é arbitrária. A maioria dos historiadores distingue entre bruxaria européia, a qual era uma forma de satanismo, e a fetiçaria em escala mundial, que não envolve veneração, mas exploração de espíritos maléficos.

A palavra inglesa WICCA, “bruxa”, que aparece num manuscrito pela primeira vez no século IX, tinha originalmente o significado de “feiticeiro” mas, durante a caça às bruxas, foi usada como o equivalente do latim MALEFICUS, bruxo diabólico. As bruxas modernas adotam uma postura muito diferente da dos antropólogos e historiadores. Para elas, a bruxaria é a sobrevivência ou o ressurgimento do antigo paganismo. As bruxas modernas diferem das bruxas históricas porque rejeitam a crença no Deus cristão e no Diabo cristão. Diferem dos feiticeiros em sua ênfase sobre o culto dos deuses, mais do que sobre a magia.

Nenhum desses usos pode ser considerado inteiramente correto. O presente livro usa o termo “feitiçaria” para a feitiçaria praticada em todo o mundo, seja ela benéfica ou maléfica, mecânica ou invocadora de espíritos. E emprega “bruxaria” em referência tanto à bruxaria diabólica da caça às bruxas quanto à moderna bruxaria neopagã.”



Leituras indicadas



Livro:

História da Feitiçaria. Relançado sob o nome de História da Bruxaria. Jeffrey B. Russel
 

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