Aquele bruxo cultua o QUÊ? Por Dylan Siegel TCS
Se
você está na comunidade wiccana há algum tempo já deve ter percebido o hábito
muito feio de alguns bruxos de criticar indiscriminadamente o trabalho alheio.
Caso ainda não tenha tido uma oportunidade de ver esse mau hábito em ação,
pergunte em qualquer grupo ou lista de discussão o que os membros acham da
autora Eddie Van Feu (que não é wiccana, mas escreve sobre Wicca), da invocação
de anjos em ritos wiccanos, do culto a Exu e de considerar Maria uma face da
Deusa.
Você
receberá opiniões inúmeras, mas garanto que a maior parte delas será inflamada e
criticando veementemente os tópicos que mencionei. Interessantemente (ou
tristemente), vejo que bruxos gastam uma imensa quantidade de energia discutindo
tópicos dessa natureza e argumentando que pessoas que fazem práticas dessa
natureza não estão fazendo Wicca. Quando essas discussões chegam até mim,
normalmente a minha vontade é perguntar
“E o que
você tem a ver com o culto de outro bruxo?”.
Um
exemplo da capacidade wiccana de criticar a prática alheia, e que sempre foi
popular, é falar mal da Eddie Van Feu. Para quem não sabe, a Eddie é autora de
livros sobre Wicca, Bruxaria e Magia e é mais bem conhecida pela publicação da
revista Wicca. Os críticos da autora argumentam que ela não pratica Wicca (e a
própria Eddie confirma isso), que os livros dela são fracos, que ela faz uma
mistureba de Wicca com outras práticas religiosas, principalmente cristãs, e que
ela faz iniciações ao fim de alguns de seus cursos pagos. Dois desses
argumentos (mistureba e iniciações pagas) incomodam tanto alguns bruxos que
aparentemente faz eles se esquecerem de que a própria autora não se considera
wiccana. Ela tem a prática dela, Bruxaria eclética, Wicca Eddievanfeuana, ou
sei lá, e está seguindo as crenças dela e escrevendo livros sobre o que ela
pratica. Porque diabos isso incomodaria outras pessoas?
E a
respeito do culto a Maria ou do culto a anjos e orixás? Alguns bruxos
argumentam que é um absurdo um wiccano incorporar esses elementos em seu culto e
que, na verdade, essa incorporação faz com que o culto dele não seja, na
verdade, Wicca. O que acontece em seguida é o assunto virar uma discussão
inflamada porque bruxos que cultuam Maria, anjos e orixás sentem-se ofendidos
por considerarem-se wiccanos. E quem está certo, no final das
contas?
Na
verdade, ninguém está certo e todo mundo está certo ao mesmo tempo. Esse hábito
de criticar a prática sacerdotal alheia vem de duas características humanas:
orgulho, no caso dos críticos, e necessidade de aprovação, no caso dos
criticados. Para críticos, não basta simplesmente sentir que seu culto é válido
e sagrado, você precisa que as pessoas ao seu redor mudem a maneira delas
pensarem e façam tudo da mesma maneira como você faz. Para criticados, não
basta ser feliz com a sua prática, as pessoas precisam concordar com o que você
faz e verbalizar a concordância delas. É muito, muito difícil encontrar um
bruxo que simplesmente não dê a mínima bola para o que os outros pensem da sua
prática sacerdotal. A sensação que dá é que a comunidade wiccana está sempre
brigando o tempo inteiro por coisas que não tem absolutamente nenhuma
importância.
Veja bem,
criticar é parte de nossos direitos de liberdade de expressão, mas a Wicca é uma
religião de tolerância, então não consigo entender porque incomoda tanta gente a
Divindade que beltrano cultua e a entidade que o fulano invoca para o círculo
dele. Faz algum sentido pregar veementemente contra o preconceito a
homossexuais e discriminar wiccanos que cultuam Maria?
Se você
quer celebrar sua Roda do Ano pelas datas do hemisfério Sul, pelo hemisfério
Norte ou pelo hemisfério oculto das sendas secretas do antigo caminho das fadas
mudas de Pindamonhangaba, vá e seja feliz. Por que eu iria me incomodar com a
sua decisão? A prática é sua e eu não tenho o direito de dizer que você está
errado. Se você considera errado alguém incorporar elementos cristãos ao seu
culto wiccano, isso é um problema seu, não da pessoa. Se você acha que alguém
que invoca Exu para seu círculo mágico não é wiccano, ótimo, mas o círculo não é
seu, então o problema também não é seu.
Orgulho e
necessidade de aprovação são duas coisas que todos os bruxos precisam
trabalhar. Críticos precisam aprender a somente dar a sua opinião quando ela
for solicitada. Criticados precisam aprender que não é o fim do mundo ter
pessoas discordando da sua prática, opiniões divergentes fazem parte da vida.
Se você alguma vez já entrou em uma discussão inflamada sobre assuntos do gênero
(e isso me inclui), ou sobre a prática sacerdotal de outro bruxo que não tem
nada a ver com você, há um longo caminho pela frente rumo à tolerância. Sorte
nossa que estamos na religião certa, só precisamos nos lembrar
disso.
Bençãos
Dylan Siegel
Para ler mais,
acesse: http://caminhosdassombras.org/
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